RP Treino] Phasmatus Ignitium Dos Ex Salvo

Salem, Massachusetts, Dezessete anos atrás.

Era muito comum a casa da família Bishop receber a visita dos parentes distantes. Geralmente duas vezes por ano todos se reuniam em volta de uma mesa para um almoço espetacular, riam e conversavam sobre como as colheitas daquele ano estavam sendo agraciados. Jasmine amava aquelas mini festas, para ela era como se fosse um natal fora de hora.

O único momento ruim era quando os adultos escolhiam alguns poucos a mesa e pediam para as crianças brincarem. Claro, brincar não era ruim. Ruim era saber que através das janelas fechadas os adultos, adolescentes e pré-adolescentes faziam bruxaria. E ela nova o suficiente para participar.

Naquele ano a pequena garota de nove anos tinha ainda mais motivos para comemorar. Seria a primeira vez que não deixaria a cozinha após o almoço. Seus pais haviam dito a ela que como a única filha daquela casa, era importante que começasse o treinamento logo assim que imediato. Os espíritos dos antigos desejavam que Jasmine abraçasse a sua identidade sobrenatural.

— Crianças, vão brincar lá. – Disse Harvard Bishop assim que a sobremesa havia sido devorada. — Você não, Minnie. – Pediu ele. A garota continuou no seu lugar sentada, o coraçãozinho batendo tão forte no peito. Os olhos brilhavam de excitação. Sabia que os feitiços não eram iguais aos filmes, mas ainda assim devoravam aquele tipo de gênero só porque fazia parte de uma realidade distorcida de sua vida.

— Como foi discutido na reunião anterior, Beltane será comemorado na casa de campo de Judith Bishop. – Falou o pai de Jasmine, Nathan Bishop. — Minha esposa e eu gostaríamos de apresentar formalmente nossa única filha, Jasmine Rosse Bishop para o nosso conselho de família.

— Jasmine Roose Bishop. – Falou a mãe dela, Meredith Bernauer. — Filha de Nathan Oliver Bishop, warlock de pai e mãe, descendente de Joan Flor de Belvoir. A mãe declarante Meredith Elena Bernauer, bruxa de pai e mãe, descendente de Ann Hibbins e Frida Gardner Bennet.

Assim como muitos na mesa Jasmine abaixou a cabeça. Era uma criança de nove anos, mas tinha inteligência suficiente para compreender que todos os seus antigos descendentes foram queimados em Salem na época de caça as bruxas. Não por homens como muitos pensavam, mas por perseguições de vampiros, híbridos, lobos e raças que possuíam inimizades.

— Eu sou uma bruxa! – Declarou Jasmine fazendo todos na mesa rirem do óbvio.


Após aquela tarde a sua vida não se tornou mais fácil. Deixava de brincar quatro vezes por semana após a escola para estudar e praticar. Não era boa como suas primas, mas tinha a sorte de sua mãe ser bastante paciente.

Naquele dia Jasmine estava com um imenso livro das sombras na sua frente. Havia sido de seus antepassados e continha feitiços únicos registrados pelo tempo. Seus olhos passavam de palavra por palavra, lendo lentamente o feitiço elemental que sua mãe desejava que ela fizesse.

Os símbolos e gravuras não tornavam mais fácil, muito pelo contrário, confundia a sua mente.

— Phasmatus Ignitium Dos Ex Salvo – Ela sussurrava o mantra a fim de memorizar. Já tinha visto sua mãe utilizar aquela magia sem nem movimentar os lábios. Só esqueceram de dizer a ela que era difícil.

— Muito bem, Minnie. – Sua tia Cassie entrou no porão abaixo da casa. — Sabe me dizer para quê serve esse feitiço?

— Para colocar fogo nas coisas. – Respondeu ela.

— Sim e não, minha criança. – A tia sentou-se ao seu lado. — Esse feitiço é o básico para toda bruxa, ele não é de ataque e nem defesa. Conhecido também como feitiço de aura de bruxa. A única finalidade é sim, colocar fogo, mas em coisas simples e com funções para isso. Podemos acender uma vela, um fogão de lenha, uma pilha de folhas secas caídas. Claro, após um tempo de prática o dom se aperfeiçoa, mas isso você ainda é muito nova para saber.

— Então não posso colocar fogo nos vampiros com isso? – Perguntou a garotinha.

— Não. – A tia riu. — Vampiros são seres amaldiçoados fortes demais para um feitiço inicial. E você não deve pensar nisso – Ela tocou o nariz da sobrinha. — Somos inimigas da quebra do equilíbrio natural, não dos vampiros, querida.  Agora acenda essas velas para mim.

A tia colocou algumas velas de pavio diferentes na frente da garota.

— Lembre-se que a magia começa primeiro na nossa mente. – Ela explicava. — O poder para modificar a realidade está dentro de você. Canalize e force esse poder obedecer os seus comandos.

Jasmine ficou ereta em frente a mesa com as velas e lentamente começou a verbalizar o feitiço. Queria fazer bonito, mal movimentava os lábios. No entanto, os objetos permaneciam iguais a como sua tia os tinha deixado. Aumentou a pronuncia do mantra, mas logo segundos depois estava quase gritando.

— A magia não é surda, querida. – Repreendeu a tia. — O que você deseja? Acender as velas? Qual será a cor do fogo? Irá queimar debaixo para cima ou ao contrário? Feitiços não são simples, todos possuem detalhes pequenos que somente nós bruxas conhecemos.

A tia focou em uma vela.

— O poder dentro de mim está sendo canalizado, o mantra surtirá efeito. Essa vela será acesa de forma normal, um fogo simples e pequeno. A chama não terá aspecto mágico, ela irá só iluminar mesmo. – Falou e em seguida a vela se acendeu sozinha. — Viu? São os detalhes que tornam a magia real.

Sabendo daquilo, Jasmine parou em frente a sua vela. Ela queria um fogo azul comum, com chamas que dançavam e brincavam. A sua vela faria uma sombra na parede diante da escuridão.

— Phasmatus Ignitium Dos Ex Salvo – Murmurou. — Phasmatus Ignitium Dos Ex Salvo.

Sentiu algo inusitado, uma ardência agradável no peito que se expandiu. Em seguida, sua vela se acendeu, mas sua cabeça rodopiou levemente. A voz da tia comemorando ficou distante por alguns segundos e então tudo se normalizou.

— Sentiu? – Indagou a bruxa mais velha. — A sua magia foi sugada para mudar a realidade, então você sente no corpo esse efeito. – Ela tinha calma. — Quando realizamos magias demais ou fazemos algo que não estamos acostumadas como você agora com esse elemental, nosso corpo sente a dificuldade. Feitiços em excesso nos levam a morte.

— Morrer? – Perguntou a bruxinha assustada.

— Claro, somos perfeitas, mas ainda assim temos os nossos limites. – Ela sorriu. — A natureza tem um equilíbrio para tudo. Agora, descanse alguns minutos e faça novamente o mesmo feitiço. Com tempo e prática você não sentirá mais esses efeitos.

Jasmine respirou fundo algumas vezes e em seguida se endireitou ainda mais. Ela olhava para o pavio aceso e sentia uma alegria monstruosa. Havia feito o seu primeiro feitiço que não envolvia só leitura de borras de café em xícaras, tarô e ervas.  





Objetivo: Treinar Bruxaria!

Feitiço: